sexta-feira, 1 de março de 2019

CARTILHAS ESCOLARES, PERONISMO E MONTEIRO LOBATO - LA NUEVA ARGENTINA

La nueva Argentina (sob pseudônimo de Miguel P. Garcia). Buenos Aires, Editorial Acteon, 1947

Lobato passou 12 meses na capital portenha, entre 1946 e 1947, tornou-se sócio de uma editora, publicou o livro infantil La Nueva Argentina




"...configura-se um relacionamento entre o escritor (Monteiro Lobato) e a Argentina que se entrelaça em vários níveis: cartas trocadas com alguns argentinos desde 1919, a divulgação do escritor junto ao público escolar, o lançamento de novos títulos, o investimento na imagem do autor e, inclusive, o envolvimento oficial – diplomático – brasileiro na promoção de Lobato na região do Prata. Esta manifestação de diferentes setores da sociedade argentina não poderia escapar das lentes dos fotógrafos, nem das colunas e artigos dos jornalistas, que acompanhavam e registravam cada passo do escritor. Um destes veículos de imprensa foi o jornal La Prensa, para o qual Lobato escrevera alguns artigos já na década de 30; dentre estes “Machado de Assis”, publicado em 1939, na comemoração do centenário do escritor brasileiro. Ao noticiar a visita de Lobato à redação, o responsável pela matéria “refere-se extensamente à popularidade de Lobato entre os pequenos argentinos, acentuando que ela excede tudo quanto se possa supor”. (Apud, CAVALHEIRO, p.229). Ainda que o lançamento de traduções, visitas a escolas, entrevistas para jornais, deixasse Lobato temporariamente afastado daquilo que ele considerava “trabalho” 2 Trecho da carta de Lobato a D. Purezinha, provavelmente de 1943. Fundo Monteiro Lobato. CEDAE/IEL/Unicamp. 6 (esta palavra para ele significava escrever ou estar em contato com o universo da escrita de obras literárias), ele estava, na verdade, pavimentando seu caminho. O autor se vê novamente trabalhando quando funda, em Buenos Aires, a editorial Acteón, juntamente com os amigos argentinos Manuel Barrieros, Miguel Pilato e Ramón Prieto; os dois primeiros, na década de 20, colaboravam com artigos na Revista do Brasil; o último foi, como já vimos, editor dos livros infantis lobatianos em Buenos Aires; a editora Acteón publicaria, sobretudo, as obras de Monteiro Lobato. Os primeiros meses no comando da editora são de intensa produção e reedição das obras infantis de Monteiro Lobato; na medida em que toma conhecimento do movimento editorial argentino, o escritor verifica, segundo Cavalheiro, que faltava uma obra que desse ideia da situação do país; a partir disso, o brasileiro se põe a estudar a história do lugar em que vivia e publica, destinado também às crianças, em 1947, La Nueva Argentina, sob o pseudônimo de Miguel P.García e com tiragem de 300 exemplares. O assunto da obra era a simulação de uma conversa sobre a política peronista entre dois irmãos e seu pai. Rapidamente a notícia da edição se espalha e as críticas ao livro, em forma de telegrama, não demoram a aparecer e noticiam que se trata de uma “interessante narrativa infantil acerca do Plano Qüinqüenal do General Perón”(Apud CAVALHEIRO, p. 231), além de Monteiro Lobato ter exposto de forma “magnífica, ao alcance da mocidade, todo o plano de realizações concebido e posto em prática pelo Governo atual da Argentina”(idem, p.231). A partir destas impressões, La Nueva Argentina passa a ser adotado nas escolas das províncias da Argentina. Segundo Cavalheiro, só a província de La Plata mandou imprimir e distribuir gratuitamente nas escolas da cidade cem mil exemplares. Estes cem mil exemplares, acrescido de outras informações sobre o livro estão na carta abaixo transcrita: Papel timbrado Editorial Acteon. Avenida de mayo 654 – 2º piso – BUENOS AIRES. U.T 33, AVENIDA 1245 B.Aires, 21/5/1947 Dr. Lobato. – Prezado Amigo: Recebemos sua nota sen data. Já foi por via aérea um “Nova Argentina”. O pacote de 10 vae pelo correio comum. Asunto/secretaria: Temos pleiteado, com resultados positivos, segundo notícias últimas, o aumento do preço para os 50.000 ejemplares da Subsecretaria de Informações. No día 7 houve um laudo arbitral para os gráficos e o custo de produção aumentou 20%. Transferimos este custo ao projecto anterior entregado ao Cipolletti e está correndo. Hoje o Pilato voltou com a novidade “que se está redactando el contrato de compra de los 50.000 ejemplares. Y debe estar listo pasado mañana”. La Plata: Temos conversado mais com o Conselheiro da Direção Geral de Escolas da Província de B.As.
O proyeto de compra dos 100.000 “Nova Argentina”, ainda não foi apresentado na Direção Geral por que os conselheiros não tem dado número para sesionar, de manera que será apresentado na seção de amanhã. Elles tem a “sugestão” do Mercante (Gobernador) de que o livro deve ser distribuído aos alumnos sem perda de tempo. 7 Esperamos, pois, poder telegrafar ainda esta semana anunciando a concreção da “tacada”. Não deixe de torcer.3 Embora não houvesse definida a compra da obra pelo governo, a missiva de 21.05.1947, quando Lobato ainda vivia em Buenos Aires, e tendo, deste modo, a possibilidade de acompanhar o movimento editorial e de venda de La Nueva Argentina, permite entender que a divulgação de tal obra foi proveitosa para que a vendagem e a circulação dos exemplares fossem para além das fronteiras da capital e se alojasse, preferencialmente, nas escolas de outras cidades argentinas. Neste sentido, tal livro parecia ter destino semelhante ao que ocorreu com Narizinho Arrebitado na década de 1920 no Brasil. No entanto, após muitas negociações e a intervenção de outras editoras especializadas em vender ao governo, como a Editorial Kapelusz, que desde a década de 1920,em Buenos Aires, publicava exclusivamente material que era adotado na escola, a obra lobatiana dedicada ao plano Qüinqüenal parece ter sido rechaçada e não foi adotada, embora tenha tido até a interferência do general Perón, tal como revela o trecho da carta abaixo, de 17.03.1948: Baires, 17/3/48 Dr. Lobato. Caro amigo: Llegó Simón al escritorio, más triste y más largo que nunca trayendo su carta. Tiene usted razón. Estoy en deuda y metido en una nube, pero en una nube que es mitad estupidez y mitad poca verguenza. Esa “Nueva Argentina” ha resultado la mas perfecta sarna con que pudiera soñar un buen rascador. El Consejo Nacional de Educación le pareció optimo, lindisimo y casi encantador el libro, pero la resolución que nos comunicó la semana pasada es que “será tenido en cuenta cuando se estudien los textos nuevos”. Eso, en buen romance, significa que nuestra solicitud ha sido rechazada. El secreto de todo reside en que la comisión de inspectores que debe dar parecer sobre cualquier texto es toda ella empleada de Capeluzt, la casa que tiene el monopolio de los libros escolares. Nos consta que hasta el mismo Perón ordenó que se tomara en cuenta el libro y que el mismo le gustó extraordinariamente. Pero la burocracia y el negociado son dos cosas absolutamente imbatibles hasta para un general. De la provincia de Buenos Aires las noticias no son mejores. Todo quedó reducido a la decisión de adquirir los 150 mil ejemplares, lo que no se ha podido materializar aun pues el Consejo Escolar está acéfalo y no tiene cariz de que se constituya en estos meses. En síntesis: nada. (…)4 Na data da referida carta, Monteiro Lobato já estava de volta ao Brasil, dado que regressou ao seu país no dia 08.06.1947, depois de passar exatos 12 meses em terras argentinas. 3 Carta pertencente ao Acervo Monteiro Lobato. Pasta 202531. 4 Carta pertencente ao Acervo Monteiro Lobato. Pasta 202534. 8 Como já fora dito, o livro inédito de Monteiro Lobato sai em 1947, durante o governo do general Juan Domingo Perón, que dura de 1945 a1955; é interessante observar que a concepção de livro do presidente está centrada na capacidade que este bem material tem de recrear, entreter ao mesmo tempo em que informa sobre a história e a cultura do país; não foi ao acaso que durante seu mandato, criou-se a “Biblioteca Infantil General Perón”, editada pela Casa Peuser. Sendo assim, Lobato, quando estudara a história da Argentina para escrever La Nueva Argentina, talvez tivesse por intenção, além de ganhar as instituições de ensino, ter seu livro integrando a coleção editada pela Peuser, embora fosse um dos donos da Acteón. Ao que tudo indica, La Nueva Argentina, que poderia fazer com que Monteiro Lobato ganhasse mais prestígio entre o público infantil em fase escolar, fracassou do ponto de vista editorial e de se estabelecer uma parceria com o governo argentino, tal como fazia outras editoras, que desde o final do século XIX até os anos 1940 se tornaram cada vez mais especializadas na produção nacional de livros de leitura e de literatura com o objetivo de vender nas instituições de ensino da Argentina. Retomando práticas que iniciara no Brasil, Monteiro Lobato consegue romper as barreiras lingüísticas e literárias e passa a ser na Argentina, como se observou, reconhecido também pelas traduções de seus livros infantis. 9 BIBLIOGRAFIA. ALBIERI. Thaís de Mattos. “Lobato: a cultura gramatical em Emília no país da Gramática”. Dissertação de Mestrado. Campinas: IEL/Unicamp, 2005. CANDIDO, Antonio.”A revolução de 30 e a cultura”. In A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1985. CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato: vida e obra. São Paulo: Editora Brasiliense, 1955. MEDINA, Pablo. “Apuntes sobre la historia de la educación Argentina”. Buenos Aires, 2002. Site da Biblioteca Nacional de Maestros: www.bnm.com.ar. FONTE:


"... a relationship is established between the writer (Monteiro Lobato) and Argentina that is intertwined on several levels: letters exchanged with some Argentines since 1919, the dissemination of the writer to the school public, the launching of new titles, This image of different sectors of Argentine society could not escape from the lenses of photographers, nor from the columns and articles of the journalists, which could not escape from the image of the author and even the official - diplomatic - Brazilian involvement in the promotion of Lobato in the region of. one of these press vehicles was the newspaper La Prensa, for which Lobato had written some articles as early as the 1930s, among which the "Machado de Assis", published in 1939, commemorating the writer's centenary In reporting Lobato's visit to the editorial staff, "the subject" refers extensively to Lobato's popularity among the small arg that it exceeds all that can be assumed. " (Apud, CAVALHEIRO, p.229). Even though the release of translations, school visits, newspaper interviews, left Lobato temporarily away from what he considered "work." 2 Excerpt from Lobato's letter to D. Purezinha, probably from 1943. Fundo Monteiro Lobato. CEDAE / IEL / Unicamp. 6 (this word for him meant to write or be in touch with the universe of writing literary works), he was actually paving his way. The author finds himself working again when he founded the publishing house Acteón in Buenos Aires, together with the Argentine friends Manuel Barrieros, Miguel Pilato and Ramón Prieto; the first two, in the 1920s, collaborated with articles in Revista do Brasil; the latter was, as we have seen, the editor of the Lobatian children's books in Buenos Aires; the publisher Acteón would publish, above all, the works of Monteiro Lobato. The first months in the control of the publishing house are of intense production and reedición of the children's works of Monteiro Lobato; inasmuch as he becomes aware of the Argentine editorial movement, the writer notes, according to Cavalheiro, that he lacked a work that gave an idea of ​​the country's situation; From this, the Brazilian begins to study the history of the place where he lived and publishes, destined also to the children, in 1947, La Nueva Argentina, under the pseudonym of Miguel P.Garcia and with circulation of 300 copies. The subject of the work was the simulation of a conversation about Peronist politics between two brothers and his father. Soon the news of the issue spreads and the critics of the book, in the form of a telegram, are not slow to appear and report that it is an "interesting children's narrative about General Perón's Five Year Plan" (Apud Cavaleiro, 231). in addition to Monteiro Lobato to have presented in a "magnificent way, within the reach of the youth, all the plan of realization conceived and put into practice by the current Government of Argentina" (idem, p.231). From these impressions, La Nueva Argentina happens to be adopted in the schools of the provinces of Argentina. According to Cavalheiro, only the province of La Plata ordered 100,000 copies to be printed and distributed free of charge in the city's schools. These hundred thousand copies, plus other information about the book are in the letter transcribed below: Letterhead Editorial Acteon. Avenida de Mayo 654 - 2nd floor - BUENOS AIRES. U.T. 33, AVENIDA 1245 B.Aires, 21/5/1947 Dr. Lobato. - Dear Friend, We have received your note sen date. A "New Argentina" has already been flown by air. Package of 10 goes by ordinary mail. Subject / Secretariat: We have pleaded, with positive results, according to latest news, the price increase for the 50,000 copies of the Secretariat for Information. On day 7 there was an arbitration award for the graphics and the cost of production increased by 20%. We have transferred this cost to the previous project delivered to Cipolletti and it is running. Today, Pilate returned with the novelty "that the contract for the purchase of the 50,000 copies is being drafted. And it should be ready the day after tomorrow. " La Plata: We have talked more with the Counselor of the General Direction of Schools of the Province of B.As.
The purchase of the 100,000 "New Argentina", has not yet been presented to the General Directorate because the directors have not given a number to meet, so will be presented in the section tomorrow. Elles has the "suggestion" of the Merchant (Governor) that the book should be distributed to students without loss of time. 7 We hope to be able to telegraph this week announcing the completion of the "shot". But he had not defined the purchase of the work by the government, the letter of May 21, 1947, when Lobato still lived in Buenos Aires, and thus having the possibility of accompanying the publishing and selling movement of La Nueva Argentina, allows us to understand that the dissemination of such a work was useful so that the sale and circulation of the copies went beyond the frontiers of the capital and lodged, preferentially, in the schools of other cities





CARTILHAS ESCOLARES ESTRATÉGIA IMPERIALISTA
PERONISMO


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